sábado, abril 07, 2007

COELHINHO.

Nasci no interior e lá vivi minha primeira infância. Por lá, naqueles idos de1960 como na maior parte do interior do Brasil, ainda não existia luz elétrica. As estradas estreitas de chão faziam a ligação com Ituporanga (aliás, como até hoje). Apesar da simplicidade em que vivíamos, as comemorações de Natal e de Páscoa eram sempre lindos, os fatos mais esperados do ano. Lembro-me que na Semana Santa, fazíamos procissões á luz de velas (protegidas em pequenas lamparinas confeccionadas com taquara e papel transparente), cantando e rezando por aquelas paragens escuras. A Páscoa que mais me marcou aconteceu quando eu tinha uns três anos e minha mãe acabara de perder um bebê. Ela ficara internada muito tempo e só a sua volta, uns dias antes da Páscoa, já era motivo de grande alegria. Mas, eu e minhas irmãs esperávamos ansiosamente o “coelhinho da Páscoa”. Apesar da pobreza de meus pais, sempre ganhávamos alguns pequenos chocolates. Amanheceu o domingo da Páscoa e muito cedo fomos olhar se o coelhinho havia vindo deixar ovinhos nos pequenos pratinhos que colocáramos sobre uma cama que não era usada. Para nossa tristeza, dessa vez ele não chegara. Minha mãe garantiu-nos que ele estava um pouco atrasado, mas que logo chegaria. Nessa época, por causa da fraqueza de minha mãe pelo aborto, tínhamos em casa uma moça negra, de nome Erundina para ajudá-la com o serviço. Erundina era nossa companheira de todas as horas. Aonde ela ia, lá estávamos nós grudadas á ela. Ela nos chamou: _ Venham comigo fazer os trabalhos, que logo o coelhinho chega... Nós a acompanhamos. Tiramos o leite, tratamos dos porcos, limpamos a louça do café... A manhã de domingo se adiantava e nada do “coelhinho” chegar... Olhávamos ansiosamente para o morro que circundava a estrada e víamos o “peludinho” se escondendo atrás de cada toco, mas... Nada! Por fim minha mãe e Erundina mandaram-nos à casa da vovó para buscar alguns temperos que faltavam para o almoço. Fomos muito aborrecidas e então, quando retornamos: _Surpresa! Os pequenos pratinhos que havíamos deixado sobre as camas já continham alguns pequenos ovos de chocolate (que o outro empregado, Carmelito, trouxera da cidade a pedido do meu pai). Quanta alegria!!!!... Afinal naqueles tempos, chocolates só eram vistos nestas épocas e nem todas as crianças os ganhavam. Talvez por isso tudo fosse tão maravilhoso, tão valorizado e saboroso. ===================
Desejo à todos,
o sabor daquela Páscoa
tão distante e especial.
O sabor da
verdadeira alegria,
da simplicidade, do carinho!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah é muito lindo mesmo esse sabor de páscoa! Que história linda amiga. Beijo da Lelê.