quinta-feira, fevereiro 01, 2007

OLHANDO PARA TRAZ!

É impossível não olhar para traz. Impossível pensar sua vida hoje sem lembrar de todos os personagens que fizeram dela o que é... Há um pouco do ser de cada um que passou em sua vida, misturado nela... Como esquecer aquelas pessoas da infância, adolescência, juventude e mesmo da idade adulta? Tantos que marcaram por grandes coisas... Tantos que marcaram por coisas tão simples... Como esquecer avós, tios primos, que corrigiram e amaram, que lhe deram sua parcela de contribuição na sua educação, que brincaram nos dias felizes de sua infância? Como esquecer a primeira professora, com sua paciência e carinho, com sua doçura e firmeza? Catequistas, padres, freiras... Como esquecer tantos outros mestres que se sucederam em sua vida? Professores de português, de história, ciências, geografia... Professor de Educação Moral e Cívica... Professores que ensinaram com seu saber, com seu exemplo, com seu caráter... Ou que simplesmente foram gente. Gente simples. Gente que acerta. Gente que erra. Gente que cai e levanta... Impossível esquecer a alegria, a energia da professora de cantos, o companheirismo do professor de história, os exemplos dados por diretores que ao longo da vida se tornaram amigos ou que com sua humanidade acabaram criando decepção... Tudo passou? Não. Cada um deixou um pouco de si nos outros... Eu lembro da sociedade bem estruturada de uma pequena cidade... Pessoas que vi desenvolver seus trabalhos na comunidade como catequistas, liturgistas, ministros da eucaristia... Aqueles que puxavam os cantos na igreja, os que ajudavam nas festas de padroeiros ou nas escolas, para arrecadarem fundos e fazer melhoramentos que serviriam à todos, dedicando parcelas da sua vida à vida da comunidade. Lembro das mulheres que com alegria e desprendimento cozinhavam nas grandes festas , de homens que assavam a carne, de homens que faziam grandes fogueiras para as festas de São João... Seu pagamento? A satisfação de ajudar a comunidade... Tudo isso fez parte da minha vida, tudo isso se somou à mim... Fez com que eu também buscasse a minha função, que eu também usasse meus dons para servir aos outros, pois como diziam alguns dos meus mestres: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Havia mais hipocrisia no passado? Talvez, mas também tanta sabedoria... Eu também lembro de pessoas amargas da minha infância: Os excluídos da sociedade... Mas mesmo esses encontravam ainda certo apoio, eram tratados como pessoas, não eram olhados com tanto desdém... Aleu: o bêbado. Tião da Vila e sua mulher: ”os baixinhos”, que andavam pela cidade com um saco nas costas, pedindo por onde passavam e recebendo sempre um pão, um quilo de açúcar... Alfredinho e Gisela: os anões. Ambos inteligentíssimos, vaidosos e bem cuidados. Celso: o excepcional, que andava pela rua, sujo e maltrapilho, dormindo ao relento, em qualquer canto onde pudesse se abrigar, pois não se sujeitava a dormir em uma cama, em uma casa... Era “da rua”, mas sempre recebia um prato de comida... Pessoas que sempre respeitei e vi ser respeitada pela maioria dos habitantes da minha pequena cidade, ensinando-me que os diferentes são seres humanos que merecem consideração... Claro que também vi muita discriminação, muita gente que fere, muita gente que não respeita... Mas eram tão minoria em relação aqueles que faziam o bem... Era muito mais fácil crer no ser humano... Aos poucos as mudanças na vida de todos. Os meios de comunicação invadindo as casas, trazendo outros costumes, outros valores... Tudo foi mudando. O pensamento coletivo se tornou menos amigo, mais materialista, mais negativo, menos amoroso... E eu fico com pena dessa nova geração, que não conheceu sabores tão mais verdadeiros, faces tão mais belas do ser humano... Como serão os homens de amanhã? Como serão meus filhos, meus netos, sem os belos exemplos que aos poucos vão se perdendo, na agitação do mundo moderno? Quem se preocupará em acrescentar coisas boas aos outros, em deixar exemplos retos, verdadeiros, para que possam agregar valores que aos poucos vão se perdendo?

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